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Festival Comida de Favela estreia nesta sexta (03) na Maré

Julia Bruce e Andrea Blum

Entre os dias 03 de novembro e 02 de dezembro, será realizada a segunda edição do Festival Comida de Favela, um percurso gastronômico, nas 16 favelas da Maré, por 17 estabelecimentos que revelam histórias, delícias e a cultura da população da maior favela do Rio de Janeiro. Um júri formado por profissionais especializados irá selecionar três pratos em cada categoria, que receberão prêmios para impulsionar seus negócios, valorizando a culinária tradicional e a criatividade dos pratos locais. Também haverá uma votação popular do prato preferido. O Comida de Favela é fruto da experiência do projeto Maré de Sabores, da Casa das Mulheres da Maré.

 

Fotos: Douglas Lopes e Patrick Marinho

 

 

Os visitantes poderão ainda participar de roteiros guiados pelo Festival com monitores-moradores da Maré, saindo de dois pontos diferentes da região, aos sábados e domingos, às 12h. Eles vão percorrer os pontos do Festival Comida de Favela e terão a oportunidade de conhecer histórias sobre a Maré ao longo do caminho. Os pontos de encontro serão: na Praça do Parque União e no ponto de ônibus da Vila do João (esquina com a Av. Brasil). Para dúvidas e informações, basta entrar em contato via WhastApp: (21) 99723-5681.

Os empreendimentos serão premiados com recursos para investimento, que variam entre R$3 mil e R$10 mil, separados em duas categorias: “Melhor Comida de Bar, Restaurante ou Pensão” e “Melhor Comida de Rua”.

No Comida de Favela, o público encontrará receitas e pratos diversos, como churrasquinho na brasa, escondidinho de batata baroa com rabada, língua de boi com purê de aipim, coxinha de abóbora com carne seca (servida com vinagrete de tangerina), caldo de mocotó, feijoada raiz, angu com costela, Dog Japa de Salmão, rabada com cuscuz, entre outros. Os pratos variam de R$ 2,50 a R$ 30,00.

“Com a realização do Festival, queremos mostrar como a gastronomia da Maré tem um modo singular de constituição, revela aprendizados e costumes, métodos e ingredientes próprios e se relaciona diretamente com a formação histórica das pessoas que construíram e constroem o território da Maré, um polo para as políticas públicas e de empreendedorismo do Estado do Rio de Janeiro. Além disso, é um convite à população viver experiências potentes nas favelas e periferias”, diz a coordenadora da Redes da Maré, Mariana Aleixo, responsável pelo projeto.

 

Quais empreendimentos foram selecionados para a 2ª edição do Comida de Favela?

Entre maio e junho de 2023, 110 bares e restaurantes se inscreveram para o processo seletivo do festival. Mais da metade (70,1%) atuam com comida de bar/restaurante e 29,1% com comida de rua. 30,9% são do Ceará, o que reforça a forte presença nordestina no território e nas receitas. Veja a lista dos selecionados:

 

1 - Amarelinho 24h

2 - Bar Amparo

3 - Bar e Choperia Esperança

4 - Cafeteria R&B

5 - Churrasquinho do Jorge

6 - Carne de Sol do Capitão

7 - DN Burgueria

8 - Frango Assado da Vila

9 - Garota da Teixeira

10 - Bar e Pensão Édson Potiguar

11 - Robson Quentinhas

12 - Boteco To Chegando

13 - Japa Food

14 - Trailer da Morena

15 - Ki Empada Boa

16 - Pensão Petisco

17 - Laje da Marie

 

De acordo com o Censo de Empreendimentos Econômicos da Maré (2014), há 3.182 empreendimentos nas 16 favelas da Maré. Desses, 1.118 (37,9%) são voltados para o setor de alimentos e bebidas. A estimativa do Censo Maré é de que comércios e serviços geraram empregos para mais de 9 mil pessoas no período da pesquisa, dos quais 76,4% eram residentes na Maré. Esses números confirmam a grande importância desta economia, tanto no que diz respeito à oferta de bens e serviços para o consumo local quanto para a geração de trabalho e renda entre os moradores.

As histórias por trás de cada empreendimento reforçam pontos em comum: o apoio coletivo da família no trabalho, o recomeço de vida e a paixão pelo negócio, como é o caso do Churrasquinho do Jorge. Há 18 anos, o churrasco acontece na rua Ari Leão, no Parque União. Um dia, numa brincadeira, ele pediu a para a dona da padaria em que trabalhava próximo para levar uma churrasqueira abandonada. Ela concordou e o incentivou a abrir o próprio negócio. E não é que deu certo? De 30 espetinhos, Jorge passou a servir 600 por semana. Hoje, são mais de 200 clientes fiéis. A equipe é formada pela esposa, Monica da Silva, e um dos filhos, o João Vitor. “Agradeço muito a minha esposa e a minha vizinha. Consegui juntar dinheiro para comprar minha casa e hoje também tenho meu carro. Já são 18 anos do Churrasquinho do Jorge e nunca tive reclamação nenhuma. A maioria dos meus clientes me elogiam, costumam falar que são bem tratados, que meu filho e esposa são educados. Tenho clientes que vêm todos os finais de semana com sua família. Tudo isso levanta a gente, mesmo que a gente não queira se levantar”, se emociona.

 

Foto: Patrick Marinho

 

Quem compartilha dos mesmos sentimentos é Rondinele, proprietário do Bar e Choperia Esperança, localizado no Parque União e conterrâneo de Jorge. Há 30 anos, Rondinele migrou de Hidrolândia, no Ceará, para o conjunto de favelas da Maré: veio ajudar o sogro a cuidar do Bar do Sorriso, que ficava ao lado de onde é hoje seu restaurante. Foram mais de 13 anos trabalhando no bar e também como vendedor e garçom em outros bairros. Em 2006, quando o sogro faleceu, Rondinele decidiu continuar no ramo: reuniu os amigos, alugou um espaço maior ali ao lado e seguiu na esperança de fazer uma vida melhor no Parque União. Os sentimentos de esperança e união marcam até hoje a trajetória da equipe, que conta com quase 150 funcionários, sendo mais de 90% moradores da Maré. A parceria interna é tão grande que eles chegaram a criar uma espécie de “Masterchef” para definirem o prato exclusivo para o Comida de Favela. “Queríamos valorizar a equipe e trabalhar com a criatividade deles, criamos uma competição interna, fizemos um ‘Masterchef’, teve júri e o petisco deveria ter um item nordestino. Teve muita união. A gente tinha uma equipe unida, mas não sabíamos o quanto era unida depois dessa ‘competição’. Dentro de uma disputa, existia irmandade entre todos da equipe”, comenta Rondinele. O prato selecionado para o Festival foi a chamada “Coxinha Arretada”, feita a partir da massa de abóbora com recheio de carne seca.

 

Foto: Patrick Marinho

 

No dia 02 de dezembro, além de uma festa na Praça do Parque União para homenagearem os premiados, também haverá o lançamento do Guia Gastronômico da Maré, que contará as histórias de cada um desses empreendedores e seus negócios. Os autores são da equipe de Comunicação Institucional da Redes da Maré, do Maré de Notícias e participantes de projetos da Redes da Maré.

 

Conheça mais sobre a trajetória do Festival aqui.

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