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Construções coletivas de políticas públicas para a mulher mareense realizada na Casa das Mulheres da Maré

Julia Bruce

Mulheres mareenses junto a representantes do poder público participaram do lançamento da pesquisa “Violências, Corpo e Território - Sobre a vida de mulheres da Maré” na última sexta-feira (21), na rua da Casa das Mulheres da Maré. Como desdobramento, também foi realizada a Construção Coletiva de Políticas Públicas para Mulheres da Maré com apresentação de propostas que contribuam com a qualidade de vida da população, especialmente das mulheres da Maré.

As propostas foram construídas através da colaboração de cinco grupos de mulheres do Conjunto de Favelas da Maré: Conexão G, MariEllas Futsal Clube, Coletivo Mães da Maré, projeto Destemidas (Luta Pela Paz) e com o grupo de mulheres participantes da pesquisa.

A partir das áreas de acesso à saúde, à justiça, à assistência social, trabalho e renda, ao esporte, cultura e lazer e à educação, foram pensadas e elaboradas cerca de 50 ações. Parte delas foi criada durante a roda de conversa no dia - “Tecendo redes estratégicas para o enfrentamento às violências contra a mulher na Maré” - por meio das convidadas: Fernanda Vieira (Casa das Mulheres da Maré), Maria Matilde Alonso (Núcleo Especial de Defesa dos Direitos da Mulher), Kamila Camilo (Assessora da mandata de Monica Benício, Câmara dos Vereadores), Gilmara Cunha (Centro de Cidadania LGBTQIAPN+ da Maré) e a Gisele Dantas (Superintendência de Enfrentamento da Violência contra a Mulher da Secretaria de Estado do Rio de Janeiro). Também esteve presente a Claire Blencowe (University of Warwick), uma das coordenadoras da pesquisa.

 

Da esquerda para a direita: A tradutora da pesquisa, Gabriela Baptista, o tradutor Marcelo Neves, a tecedora da Redes da Maré, a participante e pesquisadora, Irone Santiago, a coordenadora de campo, Isabel Barbosa, a coordenadora da pesquisa, Claire Blencowe e a tradutora Rane Souza. Foto: Douglas Lopes

 

Entre elas, destacam-se algumas ações mais focadas em territórios de favelas para ampliar a comunicação internamente, sempre pensando nas práticas de cuidado e formas de enfrentamento à violência armada. Em breve, todo o roteiro elaborado será publicado no site da Redes da Maré em formato de cartilha:

• Realização de campanhas de enfrentamento à violência contra a mulher, orientando as moradoras sobre os alertas da violência e serviços de cuidado e proteção;
• Campanhas sobre direitos sexuais e reprodutivos;
• Melhoria das estratégias de divulgação de projetos sociais no território, pois nem todos os moradores têm acesso à internet ou não conhecem as redes sociais das organizações;
• As atividades e projetos que existem no território devem ser integrados a um acompanhamento psicossocial, permitindo o acesso a direitos e aos serviços de cuidado e proteção existentes;
• Construção de fóruns que reúnam organizações de mulheres com representações das diferentes favelas para proporcionar uma articulação de estratégias coletivas; entre outras.

A equipe que produziu a pesquisa recebeu um convite da atual deputada estadual e moradora da Maré, Renata Souza, para apresentar os resultados e seus desdobramentos na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) em uma audiência pública. “O que estamos fazendo aqui é política, porque estamos defendendo o nosso direito de viver, o nosso acesso à saúde, à educação, à comida de qualidade. Ainda somos pequenos nos espaços do poder público, mas precisamos nos fortalecer enquanto lutadores e lutadoras em diferentes espaços, seja na Alerj, na Maré ou em outras instituições. Se a nossa Constituição fosse obedecida pelos governos e prefeituras, não precisaríamos de poder público. Temos diversos projetos em tramitação na Alerj, por exemplo para a empregabilidade de pessoas trans, mas o que não há é vontade política nos governos para que sejam cumpridos”, explica a deputada.

 

Foto: Douglas Lopes

 

A vida das das mulheres da Maré importa: sexta-feira (14/04/2023) com mais um episódio de violência atravessando a vida das mulheres da Maré

 

No dia 14 de abril, houve um primeiro lançamento da publicação “Violências, Corpo e Território - Sobre a vida de mulheres da Maré” na Casa das Mulheres da Maré, mas devido a uma operação realizada no início da apresentação, impediu que o evento continuasse na rua.

Cerca de 60 mulheres estavam reunidas para troca de experiências e reflexão sobre os resultados, e ao ouvirem os primeiros disparos, imediatamente as pessoas presentes foram orientadas a entrar para o interior da Casa, numa perspectiva de preservar a segurança de quem estava ali. Na ocasião, diversas mães estavam com seus filhos nas escolas e, pela preocupação e medo, muitas precisaram ser acolhidas pela equipe. Veja o relato completo na nota da Redes da Maré.

Uma das coordenadoras da pesquisa, Camila Barros, reforça que é fundamental recuperar o histórico da luta de mulheres no Conjunto de Favelas da Maré. Muitas tecedoras, desde os anos 1980, participaram de mobilizações comunitárias como a Chapa Rosa, na Nova Holanda - coletivo de mulheres engajadas na luta por uma vida mais digna e por acessos a direitos básicos, como água, esgoto, luz e segurança.

“Infelizmente, fomos atravessados pelos impactos da violência armada nesse dia, mas estamos hoje aqui, na rua, recuperando os resultados dessa pesquisa e propondo ações de enfrentamento às violências. A Redes da Maré, apesar de ser uma organização da sociedade civil, tem como seu objetivo final incidir em políticas públicas que contribuam para a qualidade de vida dos 140 mil moradores da Maré”, reforça uma das coordenadoras de campo da pesquisa, Camila Barros.

Iniciativas políticas como essa também representam a importância da realização de estudos por e com pessoas da favela. “Infelizmente, temos um histórico de pesquisa em favelas que são pesquisas sobre nós, mas nunca com a gente. Essa pesquisa e tantas outras que a Redes [da Maré] vem desenvolvendo fala disso, tem que ser com a gente! Olha quantos saberes dados e falados. Sabemos o que nós precisamos, o que queremos e o que precisa ser feito e precisamos que isso seja legitimado”, afirma a psicóloga da Casa das Mulheres da Maré, Fernanda Vieira, durante a roda de conversa.

O projeto “Os Impactos da Violência Armada na Vida das Mulheres da Maré: gênero, território e prática artística”, que deu origem à publicação lançada, foi realizado através da parceria entre a Redes da Maré, a Cardiff University (Reino Unido), a University of Warwick (Reino Unido) e a Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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