return
2ª Semana de Saúde Mental abre edital para artistas, coletivos e instituições

Julia Bruce

Entre 17 e 19 de novembro, a Redes da Maré promoverá a 2ª edição da Semana de Saúde Mental (“Rema Maré”) com o objetivo de dar continuidade ao debate sobre saúde mental no território, ampliar e fortalecer os diálogos com os profissionais, os equipamentos públicos e com os moradores do Conjunto das 16 Favelas da Maré. Pela primeira vez, neste ano, foi aberta uma seleção para artistas, profissionais, coletivos e instituições locais e de outras favelas que queiram criar espaços de reflexão, oficinas ou atividades artísticas sobre saúde mental, durante os três dias de evento. 

“Este modelo proporciona um fomato mais diverso e democrático e amplia o diálogo que estamos construindo sobre saúde mental no território", comenta a coordenadora do eixo Direito à Saúde, Luna Arouca, frente da instituição que está organizando a semana. 

Um dos principais objetivos desta edição é resgatar as mudanças da política de saúde mental brasileira a partir da história de duas personalidades brasileiras importantes para esse campo: a médica psiquiatra Dra. Nise da Silveira e a enfermeira, assistente social e musicista D. Ivone Lara. Ambas foram figuras-chave na construção da crítica à psiquiatria manicomial brasileira, desenvolvendo experiências com base na arte como processo terapêutico e na luta pelo cuidado em liberdade das pessoas com algum adoecimento em saúde mental, permitindo um atendimento mais humanizado.

Para participar da seleção do "Rema Maré" 2022, os interessados podem se inscrever em um dos temas: espaços de reflexão e diálogo ou oficinas artísticas. Para o segundo dia do evento (18/11), serão escolhidas cinco propostas de espaço de reflexão e diálogo para serem elaboradas. Já para o terceiro e último dia (19/11), serão selecionadas nove propostas de oficinas e atividades artísticas. Todos receberão o apoio financeiro no valor de R$500,00 para a realização das ações. As inscrições para a chamada pública poderão ser feitas neste edital.

Dados da Saúde Mental

Na próxima segunda-feira (10/10), é celebrado o Dia Internacional da Saúde Mental, data criada pela Federação Mundial da Saúde Mental (“World Federation of Mental Health - WFMH”), em 1992. 

Apesar de grandes progressos na área ao longo das décadas, os transtornos e problemas de saúde mental têm se tornado cada vez mais comuns em todo o mundo. A ansiedade, por exemplo, atinge mais de 260 milhões de pessoas, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). O Brasil inclusive é apontado, desde 2017, como o país com o maior índice de pessoas com transtorno de ansiedade: 9,3% da população. Cerca de 19 milhões de brasileiros enfrentam essa doença em seu dia-a-dia, tendo a condição e a quantidade de casos aumentado por conta da pandemia de covid-19.

A tecedora e psicóloga da Casa das Mulheres da Maré Fernanda Andrade explica que é importante as pessoas reconhecerem suas fragilidades, realizarem o exercício de pedir ajuda, e também buscarem relações e espaços que as façam bem, seja fisicamente, emocionalmente ou espiritualmente. “A Semana de Saúde Mental proporciona isso, seja para podermos falar mais sobre formas de cuidado, como para derrubarmos os estereótipos de que sofrimento mental é coisa de pessoas fracas ou sem fé. A Semana ainda vai nos proporcionar atividades que sejam espaços seguros para se dividir sobre questões de saúde mental que nem sempre achamos espaços para falar, além de promover a ampliação do debate com atividades artísticas e culturais.”

"Rema Maré 1ª edição - 2021"

Na 1ª Semana de Saúde Mental, realizada em 2021, foi lançada a primeira pesquisa internacional sobre o impacto da violência na saúde mental em favelas: Construindo Pontes. A pesquisa entrevistou 1.411 moradores acima de 18 anos da Maré. Os dados são impressionantes: Cerca de 31% dos entrevistados afirmaram ter sua saúde mental afetada pela violência e das 44% das pessoas que tinham passado por situações de tiroteios, 12% apontaram que têm pensamentos sobre suicídio e 30% sobre morte. Mais da metade disse sentir medo constante de que alguém próximo seja atingido por bala perdida (55,6%). Elas também apresentaram sintomas físicos como dificuldade para dormir (44%), perda de apetite (33%), vontade de vomitar e mal-estar no estômago (28%) e calafrios ou indigestão (21,5%). 

Em todos esses contextos de agravamento dos fatores que provocam o adoecimento mental, a Redes da Maré tem buscado unir esforços, promover diálogos, criar encontros para o fortalecimento de práticas e saberes que contribuam para o cuidado individual e coletivo, provocando mudanças locais, mas também estruturais.

Um dos serviços que a Casa das Mulheres da Maré oferece, por exemplo, é o acolhimento com perspectiva multiprofissional, ou seja, além das profissionais da casa como psicólogas e assistentes sociais, a equipe conta com a parceria da residência em saúde mental do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ), com profissionais de diversas áreas como terapeutas ocupacionais, enfermeiras, e assistentes sociais. Fernanda Andrade  reforça que essa promoção da saúde mental coletiva possibilita pensar em outros modos de encaminhamentos: “como entendemos que a saúde mental é afetada por diversos fatores como o acesso a direitos básicos, educação, emprego, lazer, segurança, saúde, entendemos ser importante que o atendimento possa ser multiprofissional, para que outros saberes além da psicologia possam contribuir no atendimento".

Stay tuned! Sign up for our newsletter