Desde março de 2023, o projeto Respira Maré está realizando uma série de diagnósticos sobre a qualidade do ar, identificando as ilhas de calor e observando os impactos na saúde dos moradores da Maré. A proposta é que, após analisar os dados, façamos uma intervenção pedagógica de cunho ambiental no espaço público.

Por que fazer isso?

O território da Maré localiza-se entre as três principais vias de acesso da cidade do Rio de Janeiro (a Linha Vermelha, a Linha Amarela e a Avenida Brasil), recebendo uma forte poluição atmosférica. Além do tráfego de veículos, a Maré fica a apenas 14 km da Refinaria Duque de Caxias (Reduc) - uma das maiores do Brasil em capacidade instalada de refino de petróleo e uma das principais fontes de poluição atmosférica da região metropolitana.

Atrelado a essa questão, a Maré ainda tem poucas áreas verdes, como o Parque Municipal Ecológico Cadu Barcellos e a Vila Olímpica da Maré, as quais atuam diretamente no controle da temperatura local e sua ausência no território só influencia no aumento de calor anormal (formando as chamadas “ilhas de calor”) frente à tendência de aquecimento global.

De acordo com o relatório “O estado da qualidade do ar no Brasil” (2021) do World Resources Institute (“Instituto de Recursos Mundiais”), os problemas ambientais atingem diferentes regiões e/ou porções da população com impacto desigual: crianças, idosos e pessoas mais pobres estão mais expostos aos efeitos danosos da poluição e do calor extremo. A falta de dados e de regulação jurídica são os principais desafios a serem enfrentados aqui.

PARCERIA INTEREIXOS

O Respira Maré é realizado pelo eixo Direitos Urbanos e Socioambientais em parceria com o eixo Direito à Saúde. Essa parceria surge da concepção de que para focar na questão ambiental, é preciso estar conectado com outros direitos e áreas do conhecimento, visto que o objetivo dessa parceria é pensar em soluções conjuntas que impactem na qualidade de vida dos moradores da Maré. Logo, ao olhar para a qualidade do ar, ilhas de calor e seu impacto na vida do morador, tem-se como foco compreender como esses problemas afetam a vida cotidiana dos moradores, pensar em soluções, mas também chamar atenção para o fato de que a questão ambiental é diretamente conectada entre indivíduo e natureza.

Entre as linhas de ação da Redes da Maré, a pesquisa é dividida entre o diagnóstico e produção de conhecimento sobre a região e a incidência nas políticas públicas, sistematização e difusão do saber.

A primeira inclui a medição de qualidade de ar em todas as 16 favelas da Maré, entre março e setembro de 2023, para a identificação e mensuração das ilhas de calor e seus possíveis motivos, além de um levantamento de dados públicos sobre possíveis doenças motivadas pela má qualidade do ar junto à Coordenadoria Geral da Atenção Primária CAP 3.1.

A segunda linha de ação inclui diversos encontros com moradores, atores locais e poder público para incidir politicamente sobre os direitos dos mareenses frente a esse contexto.

Foto abaixo: Fotos 01 e 02: Os agentes ambientais Luiz Carlos da Costa e Marcela de Melo estão entre os cinco selecionados via edital da Redes da Maré em fevereiro de 2023. Entre suas realizações no projeto, estão a ida a campo periodicamente para medir dados atmosféricos; a identificação e mapeamento das áreas verdes da Maré; a participação em reuniões de equipe; a sistematização e organização dos dados; além da elaboração de relatórios periódicos sobre o trabalho realizado.