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Maykon Sardinha

Reconstrução pessoal e acadêmica


Esta é a coluna Quem Tece a Redes, um compilado das histórias de pessoas que constroem a nossa organização e que tecem todos os dias o que fazemos de melhor: ações e projetos para moradores da Maré. Conheça aqui essas histórias, trajetórias, experiências e a própria história da Redes da Maré - e como esse trabalho e os desafios enfrentados a partir da pandemia os têm transformado.

Maykon Sardinha (31) é cria da região que chamamos de “divisa”, entre a Nova Holanda e a Baixa do Sapateiro. Passou a primeira infância morando no Parque Maré, e depois, a partir de um processo de violência vivido naquela área e pela necessidade da mãe de trabalhar, se mudou para Baixa do Sapateiro, onde passou a maior parte da vida. Atualmente é morador da Vila do João, formado em Geografia pela PUC-Rio e pesquisador do projeto De Olho na Maré, do Eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré.

Com o fim da graduação, Maykon iniciou um mestrado na mesma universidade, porém a academia não foi o local onde se sentia confortável pelo “abismo muito grande entre teoria e prática” que encontrou. Foi em 2018 que entrou para a equipe de mobilização do Eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça. “De cara, foi a experiência que mais fazia sentido pra mim. A gente cresce na Maré com o peso de uma violência institucional que nos faz acreditar que um direito fundamental, como o direito à segurança pública, pode ser suprimido dentro da favela.” Segundo Maykon, o processo de sensibilização do tema dentro do território foi importante para uma reconstrução, pessoal e acadêmica. “Essa experiência me fez querer voltar para a academia e atualmente sou mestrando no programa de Saúde Pública na ENSP (Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca/Fiocruz).”

Logo no início da pandemia, Maykon atuou na distribuição de cestas básicas e kits de higiene por meio da Campanha Maré diz NÃO ao Coronavírus, junto às associações de moradores do Conjunto de Favelas da Maré. “Era um momento em que ninguém entendia muito bem toda a dimensão da pandemia”. O pesquisador apoiou também o desenvolvimento e organização do banco de dados de famílias que vivem em vulnerabilidade social e foram apoiadas pela campanha mobilizada pela Redes da Maré; e no atendimento presencial na central de distribuição das cestas. “Muitas coisas foram marcantes nesse processo, uma delas foi perceber que, mesmo após a flexibilização e a volta gradual das atividades econômicas, muitas famílias ainda dependeriam desse apoio. A pandemia intensificou as desigualdades sociais e colocou um número maior de famílias em situação de vulnerabilidade.“

Para Maykon, a campanha foi um processo desafiador, mas o resultado foi lindo. “A Redes, enquanto organização de base comunitária, mostrou a importância da atuação coletiva no território, juntando associações de moradores, coletivos, grupos, voluntários etc. e criando uma estratégia de enfrentamento dos impactos da pandemia que não existia”. Segundo Maykon a campanha também implicou numa maior visibilidade da Redes da Maré dentro do território.

A pandemia ainda não acabou e os efeitos dela vão se fazer sentir por muito tempo, como bem sabemos e repetimos e também afirma e lembra o jovem morador e tecedor da Redes da Maré. “No momento atual, é importante que a Redes continue apoiando nas necessidades mais urgentes, e, futuramente, construa estratégias de atuação que envolvam a superação da crise social que ficará como legado da pandemia”, finaliza.

 




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