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Pamela Carvalho

O encontro de lutas


Esta é a coluna Quem Tece a Redes, um compilado das histórias de pessoas que constroem a nossa organização e que tecem todos os dias o que fazemos de melhor: ações e projetos para moradores da Maré. Conheça aqui essas histórias, trajetórias, experiências e a própria história da Redes da Maré - e como esse trabalho e os desafios enfrentados a partir da pandemia os têm transformado.

“Eu não nasci na Maré, mas renasci na Maré”, foi como Pamela Carvalho resumiu o encontro com o território. Ela nasceu no Morro do Juramento e veio morar na Maré já adulta. Residiu na Nova Holanda e no Parque União, onde vive há alguns bons anos, até hoje. Antes desse passo conhecia o território pelos bailes que frequentava. “O trabalho da Redes me fez mergulhar na Maré, e hoje sou cem por cento apaixonada por esse lugar e sem nenhuma pretensão de ir pra nenhum outro lugar do mundo”, comenta.

A historiadora e pesquisadora tem uma trajetória antiga de participação em movimentos sociais e de garantia de direitos. Desde o ensino médio, é muito engajada em movimentos pela garantia da educação, igualdade racial e de gênero. “Quando cheguei na Maré encontrei, dentre outras, uma luta com um histórico muito forte, muito potente: a luta por igualdade de direitos das populações de favelas, sobretudo da Maré”. Outra pauta importante para Pâmela é a garantia do direito à arte.

Foi por meio da arte, inclusive, que aconteceu a aproximação com a Redes da Maré. A primeira ocupação da educadora na organização foi no Centro de Artes da Maré, em uma exposição da escritora Conceição Evaristo, uma parceria com Itaú Cultural. Ela era responsável por receber os visitantes na exposição, principalmente grupos escolares: “foi a melhor porta de entrada para a Redes". Depois deste trabalho atuou como produtora do CAM, Coordenadora da Lona Cultural Municipal Herbert Vianna, e atualmente coordena o Eixo Arte e Cultura, Memórias e Identidades, da Redes da Maré

“Se eu pudesse sintetizar o trabalho da Redes da Maré em uma palavra seria ‘inspirador’. Para Pâmela, o trabalho da organização se tornou uma referência no Rio de Janeiro e no Brasil e hoje inspira outros coletivos, organizações e até mesmo o poder público a olhar os espaços de favelas em suas potências e na criação de metodologias de trabalho de extrema qualidade.

No começo de março do ano passado, Pâmela já estava trabalhando nas primeiras ações da campanha ‘Maré diz NÃO ao Coronavírus’: “ainda estávamos entendendo o que seria o ano de 2020, o que seria a pandemia”. Ela trabalhou na recepção, contagem e armazenamento de doações, distribuição de álcool em gel e das cestas de alimentos e kits de higiene , e também na frente de apoio aos artistas da Maré com a coordenação da chamada pública ‘Novas Formas de Fazer Arte, Cultura e Comunicação nas Favelas'. Pâmela conta que viu e viveu muita coisa durante esse processo: “hoje não consigo andar na Maré sem ser reconhecida como uma pessoa que trabalha em uma instituição que está engajada em apoiar moradores e moradoras” e complementa “a Redes da Maré se engajou em apoiar a população, mas em dar autonomia também.”

Para Pamela é difícil prospectar o que vai ser do mundo no pós pandemia. “Espero que a sociedade passe a ver a favela como um lugar que cria metodologias que apoiam o país como um todo”, diz e reforça: “por muito tempo a sociedade viu a favela como um lugar dos grandes problemas sociais, mas foi das favelas que saíram as metodologias para garantia de segurança alimentar e estratégias de comunicação. Ao contrário do que se diz, as favelas são espaços propositores de soluções, não só para a favela, mas para a cidade como um todo”.

“Não nasci na Maré e renasci na Maré” porque foi o primeiro lugar onde me reconheci como mulher favelada e onde eu consegui consolidar um trabalho e ser conhecida por ele, finaliza a pesquisadora.

 




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