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Carlos André

Encontro de territórios e lutas


Esta é a coluna Quem Tece a Redes, um compilado das histórias de pessoas que constroem a nossa organização e que tecem todos os dias o que fazemos de melhor: ações e projetos para moradores da Maré. Conheça aqui essas histórias, trajetórias, experiências e a própria história da Redes da Maré - e como esse trabalho e os desafios enfrentados a partir da pandemia os têm transformado.

Carlos André do Nascimento Silva (45), mais conhecido como Cazé, nasceu em São Gonçalo, no bairro de Neves, e é formado em direito. A sua formação política se deu início em um grupo da Pastoral da Juventude da igreja católica, movimento muito comum na década de 80. Após ter passado por algumas experiências profissionais em escritórios, chegou à Redes da Maré em 2009, para uma vaga no setor financeiro administrativo que estava em formação na época. Até então, conhecia o território apenas pelo trajeto cotidiano que fazia pela Av. Brasil.

Naquela época, Cazé era estagiário e rodava o estado do Rio. “Nesse período eu não tinha noção da quantidade enorme de histórias fortes e o quanto esse território é dominado por gente potente”, afirma. Era a primeira vez que ele entrava na Maré e o que mais impactou foi o tamanho e estrutura do comércio local, além da “barreira imaginária daqueles que moram e de quem não mora na Maré”. Apesar da formação política iniciada ainda na juventude, antes de trabalhar na Redes da Maré, ele não conhecia os impactos do trabalho realizado por uma organização social: “com o tempo fui entendendo o impacto positivo que elas causam na estrutura do lugar e na vida das pessoas. Beneficiários ou colaboradores. Além de provocar e cobrar, constantemente, o Estado na realização legal do seu papel”.

Apesar do debate racial sempre estar presente nos projetos da Redes da Maré, foi em uma provocação feita por Cazé, em um encontro interno com tecedores em 2019, que surgiu a ideia da Casa Preta da Maré. A Casa tem como objetivo criar um espaço de formação teórica-metodológica e política para trabalhar as questões étnico raciais na Maré, como forma de enfrentar o racismo estrutural que caracteriza a sociedade brasileira. “Entendi que era hora de sugerir a aplicação permanente deste debate para que ele se torne mais amplo (...) Oxalá, daqui um tempo sejam formadas novas lideranças negras da Maré para promoção de debates de enfrentamento ao racismo estrutural, ao racismo recreativo, para promoção da saúde do homem negro, e outras pautas caras desse tema.”

Durante a campanha ‘Maré diz NÃO ao Coronavírus’, Cazé trabalhou na gestão dos projetos e das doações que recebemos de pessoas físicas e empresas para compra e distribuição das cestas básicas, material de segurança e higienização. “Assim como todos, fiquei assustado com as incertezas do futuro, paranóico com a saúde, e tentando dar conta de uma demanda urgente com leveza e empenho. Pensar na transformação a partir do coletivo é o caminho possível para passarmos por esse momento”, comenta.

Cazé chama a atenção para o trabalho do Espaço Normal e a entrega das cartas pelas crianças da Maré para o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, como ações que representam bem a caminhada da Redes da Maré de pensar em mudanças estruturais e que provocam o poder público a cumprir seu papel de cuidar da cidade. Para o futuro, ele torce para que a cidade se torne menos agressiva e mais acolhedora, “espero que a alegria volte, e que ela venha transformada para melhor e seja ampliada para todos. Que possamos valorizar e ter mais carinho pela vida e pelo outro.”

 




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