Por Julia Bruce
Esta é a coluna Quem Tece a Redes, um compilado das histórias de pessoas que constroem a nossa organização e que tecem todos os dias o que fazemos de melhor: ações e projetos para moradores da Maré. Conheça aqui essas histórias, trajetórias, experiências e a própria história da Redes da Maré - e como esse trabalho e os desafios enfrentados a partir da pandemia os têm transformado.
“Tio da capoeira, quando vai ter aula?”. Essa é uma frase que o Lucas escuta frequentemente. “Quando eu chego na Lona, as crianças vêm correndo, me abraçam, fazem um círculo em volta de mim. Eu amo crianças, tem um ímã que atrai”, conta o professor de capoeira sobre a relação de muito carinho e respeito com as crianças. Ele, que desde pequeno, vive a capoeira de perto, entende as reações delas e sempre reforça o quanto a cultura e o esporte são fatores de transformação na vida de cada uma. “Meu primeiro aluno, hoje, é professor de capoeira, e sustenta a família dando aula com apenas 17 anos. Ele queria muito fazer isso”, relata.
A força de vontade foi essencial durante sua trajetória e a mãe o influenciou a crescer nessa área, pois sempre fazia questão dele estudar e participar dos projetos de cultura e esporte da Maré. Foram inúmeros do qual Lucas fez parte, como a Orquestra de Flautas da Maré, aulas de hip hop no Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM), aulas de canto coral na Vila Olímpica, entre outros. Quando chegou no Ensino Médio, fez o Curso Pré-Vestibular da Redes da Maré e passou de primeira para Educação Física, na UFRJ, curso que sempre teve vontade de fazer. “Minha primeira aula na faculdade foi de capoeira, assim, retomei minha paixão, comecei a estudar, a treinar e a viver disso”, explica Lucas, que ensinou capoeira em escolas particulares e projetos, até chegar na Lona. “Eu tinha um tempinho livre na minha semana e queria doar para as crianças aqui da favela”.
Em 2019, Lucas chegou com um projeto de aula de capoeira para o projeto “Maré de Capoeira” e começou a atuar como voluntário e, logo depois, como oficineiro da Lona, por dois anos. Em 2020, participou da Chamada Pública - Novas Formas de Fazer Arte e Cultura, em que escreveu videoaulas que já estava fazendo para a Lona acerca de personalidades negras da capoeira na perspectiva antirracista. Para as crianças da Lona, essas aulas eram feitas em forma de fantoche, com linguagem infantil, para praticarem capoeira ao ouvir as histórias. Além disso, foi mentor do Marégrafia: Cartografia das artes e artistas na Maré, que integra o projeto Maré que Queremos, do Eixo de Desenvolvimento Territorial, e tem como propósito dar visibilidade às produções de artistas locais. Lucas fez mentoria para direcionar a pesquisa, selecionar os artistas, e dialogar com o território.
Na campanha ‘Maré diz NÃO ao Coronavírus’, chegou como voluntário em abril deste ano para distribuir cestas básicas de porta em porta e reflete como isso fez com que se tornasse uma pessoa diferente: “Isso me ajudou a entender que é um trabalho, mas que também é uma missão de ouvir histórias, de parar e poder oferecer um ouvido atento. Me ajudou nesse sentido de colocar mais humanidade no meu trabalho, de olhar mais olho no olho”, descreve. E é justamente esse olhar que ele espera das pessoas em um breve futuro.
Rio de Janeiro, 07 de setembro de 2021.
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