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Dalcio Marinho

O olhar para a potência mareense

Por Julia Bruce


Esta é a coluna Quem Tece a Redes, um compilado das histórias de pessoas que constroem a nossa organização e que tecem todos os dias o que fazemos de melhor: ações e projetos para moradores da Maré. Conheça aqui essas histórias, trajetórias, experiências e a própria história da Redes da Maré - e como esse trabalho e os desafios enfrentados a partir da pandemia os têm transformado.

Dalcio Marinho (51), nascido e criado em Niterói, é geógrafo formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Ao conhecer a Maré, em 2001, entendeu de imediato a ocupação do espaço, o que o fez até mudar seu tema de pesquisa de especialização. Hoje, Dalcio é coordenador geral do Censo Maré e trabalha com produção de dados para diversos projetos da nossa organização.


Foi num encontro com seu antigo professor da faculdade e fundador do Observatório de Favelas, Jailson de Souza e Silva, que sua história com a Redes da Maré começou. Ele foi convidado para conhecer o território e estudar um tema referente ao trabalho da organização na região. Dalcio buscou desenvolver uma pesquisa de avaliação do Curso Pré-Vestibular com os alunos, para sua especialização em Pesquisa de Mercado e Opinião Pública da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Dez anos depois, esse estudo gerou uma nova avaliação do CPV.

O geógrafo lembra que, ao chegar na Maré, viu um “lugar colorido, vivo, orgânico, com aprendizagens e descobertas” que o marcou intensamente. Ele reforça que vinha de uma formação que o acostumava a olhar para o espaço e analisar seu ordenamento, e gostava de observar isso. “Ao circular na Maré, eu consegui compreender, por exemplo, como as relações dos comércios com o espaço público e os moradores se davam por um pacto reconhecido pelas pessoas. Havia um reconhecimento do espaço de cada um, o que cada um fazia ou não na calçada, na rua, na sua porta, na janela, e esse lugar espontâneo me marcava muito. Quando eu tinha trabalho no sábado, gostava demais de sair caminhando, pegava uma rua como a Principal ou a Ivanildo Alves (Nova Holanda), e ia de uma comunidade para outra, para poder ir apreciando e vendo o que tinha de geral e particular em cada favela”, explica.

Dalcio também já colaborou com o trabalho do Observatório de Favelas em parceria com instituições como o Instituto Pereira Passos, produzindo a cartografia do programa Rio+Social em 2012, por meio da coordenação de um trabalho de campo em 205 favelas da cidade. Durante a produção do Censo Maré, ele conta que a equipe ficava impactada pela experiência da interação com os moradores no momento das entrevistas domiciliares, de conhecer realidades diferentes: “Para mim, sabia por experiência que o impacto era esse. A gente encontra, principalmente, a força, a resiliência, a potência criativa e empreendedora das pessoas, é isso que mais aflora nas entrevistas.” O Censo, através da conversa com cada morador, contribuiu para a revelação dessa potência.

Dalcio atenta para o quanto um trabalho de pesquisa pode ajudar a transformar um território ou questões específicas da vida dos indivíduos: é conhecer a realidade, dar visibilidade e, ao mesmo tempo, reconhecimento à Maré. “Para dentro, contribui para que as pessoas possam identificar e dimensionar melhor quais são as demandas e as potências. E faz com que as políticas públicas sejam melhor reivindicadas, não só planejadas”, afirma. O Censo Maré deixou um legado de produção de novos dados com novas pesquisas, mostrando caminhos de ação para todos os Eixos da Redes da Maré. O tecedor já trabalhou na equipe de pesquisa de projetos como: Construindo Pontes (2021), Educação de meninas e COVID-19 no Conjunto de Favelas da Maré (2020) e Mostra de Mobilidade da Maré (2015).

Na campanha ‘Maré diz não ao coronavírus’, Dalcio participou da elaboração das propostas de projetos para firmar parcerias, além de produzir dados para mostrar o tamanho da população, a faixa de renda, quantos mareenses estavam na linha da pobreza, quantos domicílios eram ocupados por idosos ou apenas por uma pessoa, etc. No começo, se forma uma equipe que atua diretamente com o banco de dados e ele chegou a ajudar no monitoramento dos volumes das cestas que já tinham sido distribuídas, com a produção de dados para o relatório de prestação de contas, além de participar das primeiras 20 edições do boletim ‘De Olho no Corona’. Neste ano, com o #VacinaMaré, ajudou na estimativa da população alvo para o dimensionamento da demanda da campanha, durante o planejamento.

Diante de toda a trajetória da Redes, Dalcio garante que ela não atua no desconhecido, mas busca conhecer para atuar. “Uma das formas de conhecer é fazer uma pesquisa e aproveitar os resultados para fortalecer e até ampliar suas ações, avaliando-as também. A Redes tem esse compromisso, e ela foi uma instituição de resiliência naquele momento de emergência, uniu esforços e respondeu muito bem. Junta-se a credibilidade e a criatividade dela com a solidariedade”.

 

 



 

 

Rio de Janeiro, 05 de outubro de 2021.

 

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