Por Jéssica Pires
Esta é a coluna Quem Tece a Redes, um compilado das histórias de pessoas que constroem a nossa organização e que tecem todos os dias o que fazemos de melhor: ações e projetos para moradores da Maré. Conheça aqui essas histórias, trajetórias, experiências e a própria história da Redes da Maré - e como esse trabalho e os desafios enfrentados a partir da pandemia os têm transformado.
Em Minas Gerais, Helena já apoiava movimentos sociais ligados à igreja que frequentava, mas, na Nova Holanda, se deparou com uma força muito potente de mulheres em uma campanha denominada “Chapa Rosa”, a primeira chapa diretamente eleita para a Associações de Moradores da Nova Holanda, em 1984, com mulheres na linha de frente. Helena logo se envolveu com a luta dessas mulheres, que foram protagonistas na garantia de muitos direitos para a Maré.
“Não dava para o morador ficar insensível com as mobilizações da Chapa Rosa. Fazíamos assembleias na Escola Nova Holanda, que reuniam mais de 300 pessoas dentro do pátio”. Eram muitas as demandas que os moradores tinham naquela época, do acesso à água até a posse das casas. A Nova Holanda foi uma favela formada por famílias removidas de outros espaços da cidade, porém, sem a chegada de políticas que garantissem as necessidades dessas pessoas. A mobilização popular, sobretudo de mulheres, foi fundamental para esse processo. “Eu trabalhava fora e, quando chegava, ia participar das reuniões e mobilizações. Se a Chapa Rosa não fosse tão atuante, talvez eu não tivesse me engajado tanto nas mobilizações. De ver a atuação, as conquistas, a gente vai se envolvendo e se animando.”
Foi nessa luta que Helena Edir conheceu Eliana Sousa, fundadora da Redes da Maré, onde ambas integram a direção atualmente. “Quando olho pra trás e vejo onde a gente começou e onde a gente chegou, começando com o Eixo de Educação e identificando outras demandas, fico muito feliz”, comenta Helena.
No geral, o protagonismo das mulheres da Maré nas suas lutas pessoais e coletivas chamou a atenção de Helena ao chegar na Nova Holanda. Em Minas Gerais, na época, poucas mulheres trabalhavam fora, “mas eu sempre achei que a mulher tinha que trabalhar, não tinha que ficar em casa”, comenta. “A creche Nova Holanda foi criada por conta disso: as mulheres queriam trabalhar, não tinham com quem deixar os filhos”. A partir dessa necessidade, as mulheres se reuniram e mobilizaram para garantir esse espaço de acolhimento para as crianças, para que fossem em busca de sua autonomia financeira. Dona Helena, como muitos a chamam aqui na Redes da Maré, destaca também a importância do Bufê Maré de Sabores e da Casa das Mulheres da Maré nesse processo, (leia sobre), e como é perceptível o impacto desses projetos na vida das mulheres.
Durante a pandemia, Helena ficou surpresa com a quantidade inicial de famílias que sofriam com a fome na Maré e chegou a se perguntar se daríamos conta de apoiar todas essas pessoas, mas ficou feliz com a quantidade de doações que chegavam. Ela destacou também as ações das frentes do Conexão Saúde: “Fui vendo como foi impactante o nosso trabalho e também a coragem das mulheres que estavam na linha de frente”.
Perguntamos para Helena como ela apresentaria as mulheres da Maré e ela disse: “mulheres realmente guerreiras, porque a gente já passou por muita coisa, muita violência, muita carência, discriminação, mas não perdemos a esperança, a gente acredita no nosso potencial. A gente acreditava que ia ter água e a gente conseguiu, a gente acreditava que ia asfaltar as ruas e a gente conseguiu, entre tantas coisas. Essa esperança é que move o tempo todo. Espero que daqui a uns anos possamos ver mais mulheres inspirando outras pessoas, que possam ir multiplicando tudo isso, e que a Maré possa ser mais potente ainda!”.
Rio de Janeiro, 16 de novembro de 2021.
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