Por Julia Bruce
Esta é a coluna Quem Tece a Redes, um compilado das histórias de pessoas que constroem a nossa organização e que tecem todos os dias o que fazemos de melhor: ações e projetos para moradores da Maré. Conheça aqui essas histórias, trajetórias, experiências e a própria história da Redes da Maré - e como esse trabalho e os desafios enfrentados a partir da pandemia os têm transformado.
“Eu tenho uma história muito próxima com a dos moradores da Maré e que me despertou para o trabalho social”, conta Edson, que chegou com apenas um ano de idade na Nova Holanda, onde passou sua infância. Uma das primeiras lembranças do território é de estar jogando futebol todo final de tarde no Campo da Paty e, apesar de relatar que havia muitas carências, ele foi feliz. Estudou em escolas públicas do território e começou a trabalhar aos 14 anos. Só mais tarde, Edson cogitou fazer um curso superior, pois não havia pré-vestibulares comunitários: “essa discussão não existia na Maré”.
A entrada na universidade foi definidora no caminho de Edson: “me abriu novas perspectivas, saí do emprego no shopping e passei a dar aula”, sempre enfatizando a importância de se ampliarem as possibilidades para os jovens mareenses e de outras favelas. Em 1999, ele foi convidado pela Eliana Sousa, que também é de Serra Branca, na Paraíba, e conhecia sua família, para dar aula de História no Curso Pré-Vestibular, onde depois atuou como coordenador e diretor.
Na sua caminhada como diretor da instituição, ele ressalta que a Redes nasceu com a perspectiva de discutir temas além da educação, como segurança pública, e que se transformaram em eixos de trabalho. O que mais o marcou em duas décadas de trabalho na Redes foi a oportunidade de ajudar muitas pessoas, tanto da Maré como de fora, a descobrirem outras possibilidades. “A Redes abre muitas portas e janelas que dificilmente a gente teria acesso sem ela. Favela é um lugar diferenciado, de muita resiliência e resistência, mas não dá para esquecer que a favela é fruto da desigualdade brasileira”.
Nessa luta por uma sociedade mais justa, a preservação de histórias e memórias sempre foi essencial para a vida de Edson. Assim, trouxe a ideia de criar o NUMIM dentro do eixo Arte, Cultura, Memórias e Identidades, e isso teve a ver com sua passagem pelo CPV, pois sempre contava a história da Maré nas aulas e dizia: “Por que não criamos um lugar para preservar essa história?”. Ele viu que algo tinha que ser criado, porque as pessoas mais antigas estavam indo embora e essa história também. “O NUMIM nasceu dessa vontade de dizer: a favela é cidade, mas para ser cidade, você tem que contar a história da favela. Sem história, não tem identidade, e sem identidade não tem lugar na cidade”.
Edson terminou seu percurso na Redes em dezembro de 2021 e reflete que o principal desafio hoje é manter o espírito coletivo em uma instituição que cresce cada vez mais. “A luta tem que ser diária. Quem fica e quem vai entrar na Redes tem que saber que ela é uma instituição que está ali para construir redes que possam ajudar a mudar a realidade da Maré e de outras favelas. O espírito tem que ser sempre inquieto, não deixar se acomodar. É ter espírito de transformação interna e social”.
Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 2022.
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